“Se gritar pega ladrão, não
fica um meu irmão”. O samba de Bezerra da Silva explica didaticamente o que é a
política capitalista brasileira. E a letra denuncia mais: “Aqui realmente está
toda a nata: doutores, senhores, até magnata”. É isso o que assistimos com as
primeiras prisões dos mensaleiros, que deveriam estar acompanhados da elite
política oligarquica do nosso país.
Quando assumiu o poder na
tentativa de conseguir governar, o Partido dos Trabalhadores tentou fazer um
pacto com essa elite ao invés de manter o pacto assumido com a classe trabalhadora.
O “ex-Partido” ingenuamente supos que seria suficiente fazer um pacto de
silêncio sobre a caixa preta do governo Fernando Henrique para ser aceito pela elite
conservadora. Por isso, o então “novo governo” calou a boca e não investigou a
onda de privatarias fraudadas, os inúmeros escandâlos de corrupção tucanos, que
anteriormente denunciava na oposição, como a máfia dos sanguessugas no
Ministério da Saúde de José Serra, a bolsa Mídia do governo federal para enriquecer
as empresas de comunicação, a máfia política de José Sarney na sarneylândia do
Maranhão, da família ACM na Bahia, de Collor em Alagoas, a reforma picareta da
Previdência feita no conchavo do governo anterior, o pagamento absurdo de juros
de uma dívida pública espúria, o encandâlo da compra de votos para a reeleição
de FHC e por aí vai.
Além de não investigar a
corrupção profunda do governo PSDB/PMDB, o PT ainda se aliou ao que existe de
mais degenerado e podre na política. Deu as mãos para banqueiros e
construtoras, fez alianças regionais com senhores feudais da política ruralista,
ou seja, a velha direita.
Contudo, este partido sempre
foi visto pela direita tradicional como um partido penetra no grupo, um novo
partido da mesma direita, mas sem pedigree, virou uma direita sem “sangue
azul”. E nem essas ações degeneradas contra os trabalhadores serviram para
ganhar a simpatia da elite que sempre dominou o país.
Mesmo traindo a classe e não sendo
aceito no grupo da elite tradicional, ainda teve que vender a alma e comprar
consciências para governar. O crime maior veio com a aprovação da reforma da
Previdência de Lula, em 2003. Depois disso, descobriu-se o esquema mensalão,
compra de votos, desvio de dinheiro público para o caixa do partido para pagar
dívidas de campanha. A direção do PT já degenerado pelo poder, imaginou que
podia fazer as mesmas canalhices que a velha direita, mas o grupinho seleto da
elite que se acha de “sangue azul” não aceitou e colocou o aparato da imprensa
e da justiça burguesa para exigir a condenação.
A consciência da imprensa
burguesa não tem preço porque ela sempre pertenceu à velha direita. Por isso,
mesmo com o o atual governo mantendo os milhões gastos em propaganda por meio
do bolsa mídia, jornais, revistas e TVs, a imprensa se volta contra o PT. E
olha que só a Globo recebeu R$ 5,5 milhões do Visanet (esquema por meio do qual
o PT desviara dinheiro do Banco do Brasil). Mas não existe união entre as
frações da direita quando elas lutam entre si por dinheiro e poder.
Assim, oito anos se passaram e
os primeiros mensaleiros começam a ir para a cadeia. A pelegada do atual
governo está enfurecida com as prisões
porque se consideram perseguidos pela direita tradicional (o que é bem
verdade), por não terem sido aceitos no grupo e por represália a políticas
sociais como o Bolsa Família. Isso prova
que não adianta acender uma vela pra
Deus e outra por diabo. A lição maior que fica é que
os fins não justificam os meios. São as frações da direita em confronto.
O presidente do Supremo
Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, tem ápices de prazer público ao condenar os
mensaleiros quando este mesmo Supremo Tribunal Federal fez vista grossa para a
corrupção a vida inteira. Pior: ainda livraram criminosos financeiros da pior
espécie, como: Daniel Dantas (um dos maiores banqueiros criminosos do país). No
próximo período, veremos que manobras da própria justiça burguesa vão permitir
redução das penas, cumprimento em regime semi-aberto e prisão domiciliar.
Não nos iludamos com esta condenação, a justiça é uma ferramenta utilizada
pela burguesia para oprimir a classe trabalhadora. Que os mensaleiros devem ir
para a cadeia não há dúvida, porém a justiça se mantem protegendo os crimes da
elite politica conservadora. Se assim não fosse poderíamos esperar o mesmo empenho
do reacionário Joaquim Barbosa na investigação e prisão dos tucanos envolvidos
na corrupção do trensalão do metrô em São Paulo, no desvio de verba da
secretaria da educação sob o governo de Aécio Neves, em Minas. Um fato já
comprova a tendência do STF em condenar apenas a nova direita, o PT. O
mensalão, na verdade, foi inventado pelo PSDB em Minas Gerais na campanha do
senador tucano Eduardo Azeredo. Nunca se ouviu movimentos desta elite a
reivindicar a prisão de Maluf por exemplo.
Temos que ter em mente que
todo ato de corrupção é um crime contra a classe trabalhadora, é uma sacanagem
política de algum grupo para se autobeneficiar, enriquecer ilicitamente. O
menor abandonado, a falta de vagas em escolas públicas, a falta de especialistas
nos hospitais públicos são crias da corrupção e do sistema capitalista de
exploração. Assim, que o STF investigue e puna também os crimes da velha
direita! E que a classe trabalhadora avance na discussão de uma política de
esquerda e classista para o povo.
Emerson José
Colaboração: Valéria Medeiros