A esta altura dos acontecimentos
da Copa de 2014 pouca gente ainda tem a ilusão de que o evento da FIFA traga
alguma benesse para o povo brasileiro. O tal legado da Copa, que seriam as
obras de mobilidade urbana, simplesmente eram mentira. O governo federal chegou
a prometer até o trem bala para o evento. Os corredores viários que seriam
criados nas cidades-sedes também foram conversa pra boi dormir.
Segundo estudos, esta é a Copa do Mundo mais cara da história e a que
mais injetou dinheiro público. Se a população tivesse alcance aos dados, a Copa
não teria mais sentido para o povo brasileiro. São os esforços da classe
trabalhadora brasileira que está bancando 85% dos gastos de cerca de R$ 30
bilhões das obras. O custo total é desconhecido porque os dados estão sob
sigilo da Lei Geral da Copa. Agora sabemos que R$ 2 bilhões foram anunciados
como gastos de segurança, armamento pesado para conter manifestações.
O governo de São Paulo teve a
cara de pau de comprar tanques de água para dispersar multidões quando os
paulistas estão prestes a enfrentar racionamento de água, o que já ocorreu em
Guarulhos. Já as tais parcerias público-privadas simplesmente serviram para
transferência de renda do governo, ou seja, dinheiro público para as
construtoras e diretorias de clubes, que ganharam estádios faraônicos a custos
ainda mais faraônicos.
8.350 famílias foram removidas
de suas casas só no Rio de Janeiro. Foram mais de 170 mil despejos em todo o
Brasil. As principais acusações contra as remoções foram as formas violentas
como foram feitas. As casas eram marcadas um dia e demolidas no dia seguinte a
força. Muitas casas foram invadidas, inclusive, pela polícia para pressionar os
moradores a aceitarem a ordem de despejo.
A propaganda oficial de geração
de empregos foi outra farsa. Esses postos de trabalho são precários e
terceirizados, ocasionando inclusive mortes. Das obras aeroportuárias, só a
ampliação do aeroporto de Guarulhos saiu do papel, mas custou sangue e suor de
muitos trabalhadores. 111 deles foram resgatados da obra por causa das
condições – classificadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego – degradantes,
ou seja, análogas ao trabalho escravo.
Há o agravante de a exploração
ter sido financiada com dinheiro público. A construtora responsável pela obra é
a OAS, que conseguiu um empréstimo-ponte de R$ 1,2 bilhões do BNDES na
privatização do aeroporto pelo governo federal. A OAS é uma das quatro empresas
do consórcio Invepar que detêm 51% da sociedade com a Infraero para a
administração do Aeroporto Internacional de Guarulhos. Segundo levantamento
do jornal Folha de São Paulo, a OAS é a
terceira empresa que mais faz doações a candidatos de cargos políticos.
Para oprimir as mobilizações, tanto o governo federal como os governos
estaduais, principalmente os de São Paulo e do Rio de Janeiro, já colocaram
tropas com o dedo no gatilho para atacar os manifestantes.
“O tiro saiu pela culatra”
O governo federal legítima o
estado de exceção criado para beneficiar a FIFA com a ilusão de que o eleitor
se entorpeceria com o evento em ano de eleição. A juventude tomou as ruas do
país em junho de 2013 e tomou a bola. Os protestos não pararam e o governo
jogou o aparato de repressão do estado contra o povo.
Não há duvidas de que as pessoas têm o
direito de torcer na Copa do Mundo, mas há que se garantir o direito à livre
manifestação de quem é contrário à barbárie com o dinheiro público, o que, para
o desespero de nossos governantes, são centenas de milhares de manifestantes!